sábado, 30 de junho de 2012



O Poeta

Quando juntar a mim o perfume morto
Da estrada em que ando na ramaria
Dos arvoredos secos, sem paz, e absorto...
“Que notado mundo, verei o sol do dia!”

Quando o cedro der-se pequeno fruto,
Branco em neve na luz dum luar,
Que fora, ao zumbido a voz dum tributo...
“Mais um réu a juntar-se irá vagar...”

Imensas cores terão as alvoradas...
Os sóis queimarão, sem fogo, sem arder,
Dias e dias, sem negras madrugadas...

E o mar revolto, na calmaria de vencer
Os meus braços, nos ramos das jornadas...
“Que notado morto ledores hão de ver!”

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 27 de junho de 2012



Morto

Assassinos que me ensinaram a lutar,
Vinde! E levais todos os teus medos!
Que desse abutre d’asas negras ao luar,
Não descubrais seus fúteis segredos!

Vinde! Criaturas de extensão pouca!
E os trêmulos, e os de sem amor!
Que os murmúrios de minha boca,
Já os cantam noites como esplendor!

Sepulcros, sopros impuros, vendavais...
Desse, que veem desnudo, elevais!
Eis do que finar-se não mais fazem rir!

Vinde! De esperança elevou-se a cruz!
Que, de cadáveres, bendizeis a luz!
Pois não me há mais chão pra se cair!

(Poeta Dolandmay)


Que seja dos trovados

Que sei! Que de regras rege o mundo...
Talvez por isso eu seja o que sou,
Um funesto que ninguém vê!

“De vida, que é vida, mesmo sem voo; porque é vida!”

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 20 de junho de 2012



Aparência

O que sou distante desse mundo?
Nem um miserável criticado a força!
Que bem aqui, sou um circundo
Por quem me vê, por quem me torça!

Que seja eu, curvado, tristeza toda!
Assim, sou mesmo um profundo,
Que de gargalhadas sou bucha-escoda;
Um lavar de cerne de moribundo!

“Sou chuva que cai e que corre solta,
Sou água sem brilho e absorta,
Sou dessa terra mais um pecado!”

Que bem me veem dum amor-tortura!
Porque sou filho da amargura,
Do orgulho mudo do meu falsado...

(Poeta Dolandmay)

sexta-feira, 15 de junho de 2012



Politeísmo

Andantes pagãos, vis, enfeitiçados
Em visões complexas, de ouro coberto;
Sol destro, aos olhos fechados;
Visão sem luz, de tempo incerto...

Que murmuram nefário, que dialeto?
Se nada esconde os pecados!
Em fulgores se estendem em afeto,
O astro que nasce, os corpos dourados...

De nada se vê o mundo, que bondade?
Se aberto em fleuma é saudade,
Se de treva em agrado é tortura...

Que erguidas aos céus fossem as mãos,
E enlevar fosse a Deus os pagãos...
Que eterna fosse à luz que vos dura!

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 6 de junho de 2012



Os meus versos

Na elação fúnebre das vozes displicentes
Cânticos mortos se erguem em amores
Rompendo os aspectos fúlgidos doentes
E de bálsamos puros renascem as flores...

Dos meus sentidos frígidos descontentes
Espectros que me rondam em ardores
Levantam-se em enigmáticos fulgores
E do meu corpo se apossam... Frementes

... Os indizíveis atos que me envolvem,
Que sem paixão em meu peito dissolvem
Elevam-se em desejos estáticos de dor...

E os meus jardins conspirados, impuros,
Imprecados por abantesmas conjuros
Ressurgem-se em cânticos vivos de amor...

(Poeta Dolandmay)


Missiva

“Na vida, há noites e há dias,
mas na magnitude do amor,
tudo se torna sol.”

(Poeta Dolandmay)