quarta-feira, 31 de outubro de 2012



Resplandecência

Se nada for de tristeza ou de pecado,
Ilusão e medo são de florir breve...
Que nada em constância se escreve
Na penumbra de um dia ter passado!

E é luz sobre o calvário do terrado.
O tempo cinza é um cair de neve...
Que de existência nada é vil e leve
No primor do imenso sol dourado!

Que são de provar tudo que engana!
Que de sonhos, a paixão profana
No descalvar dos jardins em flor...

E os dias se idolatram em quimeras!
Dos sepulcros, erguem-se primaveras
No perfumar da vida em esplendor...

(Poeta Dolandmay)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012



O Espírito e o Poeta

Quem de mim é mais notável, oh, Espírito cruel,
Mais do que o seu fulgor, mais do que seus versos?
— Que me abrasa! Ao seu fogo-árduo, e, em fel,
Mais do que o amargo dos seus dentes perversos...

Os cânticos se cumprem, e são tufões dispersos;
Sem ouvidos, sem olhos de sol, são baixos cordel...
E, dos seus clarões, que são das noites reversos,
São de mim mais cândidos que o seu formoso céu!

Quem de mim é mais vil qual seu punhal infinito?
Mais do que seu gume, mais do que seu querer,
Arqueja dentre ao meu peito o seu imo profundo!

E a canção que se perde? E o seu rompante grito?
Mais do que seu pudor, mais do que seu poder,
Sou a alma em que brilha sua amargura no mundo!

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012



Origem-Santa

Sol altivo e quente. Bondade invulgar,
Imensidão de promessas, vida-além:
O anjo da luz, no primeiro luminar,
Em que habita ao mundo... — O harém!

Esperança e conforto. O amor e o luar:
Idólatras que dispersam o mal, o vivem
Aos jardins de sorriso, o despertar
Dos sepulcros dos sonhos... Amém!

...Que desejos fossem de astro-claridade,
Do mar azul a pureza e a verdade,
Ao sol o dispersar da ilusão e do medo!

Sangue e paixão: amplitude e afeto,
Que ensinaste ao coração o homem-reto;
O fulgor da eternidade... — O segredo!

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012



O poema

Talvez um delírio, inculto e quente,
Paixão de intenso clamor, impuro,
Um displicente calor que perduro
No insensato mundo em que sente...

O desconexo, o cauto, o conjuro,
Que se implica a vaguear entre a gente:
Luz que boêmia, ao sol poente,
Dum indescritível sentir obscuro!

Mas que vigora, e que me intensa
De demência grata e de bendito amor!
Que flui, o estreito da minha sentença

Doce, e leve, e altiva que impera,
Em que na existência me faz esplendor
Ao estouvado astro em que vela...

(Poeta Dolandmay)