quarta-feira, 31 de julho de 2013


Morte

Morte! A porta certa e a mais bela
Entre a vida e a escuridão...
Luxúria maldita e luz que vela...
Que aos mortais, clareia em vão!

Sombria, e gentil, e rastejante...
Que me acerca... que por graça,
Inflama minh’alma e passa
A flamejar um amor prestante...

Um vestígio certo do que sou
Petrificado ao teu segredo
Nas noites frias sem luar e sem cor...

Que por te encontrar, sem nada
Seguindo tua luz, sem medo,
Eis em mim a tua dolente morada...

(Poeta Dolandmay)

segunda-feira, 22 de julho de 2013



A minha existência

Onde está ela? a ensandecida...
Aquela que me era pra ser tamanha,
ser fonte de amor com tanta lida...

Por que me deixou assim tão triste?
Por que a tristeza existe
a me enlouquecer sem verdade tanta...

Onde está ela? a iludida...
Quem há de me responder sem que vão
a tenha dentro d’alma possuída...

De quem é ela com tanto amor?
É de mim com tão espanto
que eu apenas sei onde anda sua dor...

Por quem é ela sem mais guarida?
De amar sem tão amor vou sem saber
onde anda ela... “a minha vida...”

(Poeta Dolandmay)

terça-feira, 16 de julho de 2013



A minha desgraça

O mais alto entre os abutres! Vão
De amor e ódio, descontente...
Sem luz, sem nada... ao sol poente
Flamejando em mágoas o coração...

O mais alto! Um fantasma ao chão
Rastejando em labirintos, dolente
Ao seu orgulho, e, unicamente
Qual um blasfemado sem paixão...

Um mar morto, uma estrela caída...
O mais vil, de aflição, sem lida,
No vozear de mais um são-pecador!

Sem vigor, e desgraçado, e triste...
D’olhos fechados, que à dor persiste,
No amar sem vida o próprio amor!

(Poeta Dolandmay)

quinta-feira, 11 de julho de 2013



Louco

Deste acaso imprecado sem razão,
Em que eu vivo a desventura,
Tudo é pálido, é morto, tudo é vão
Dentre a minh’alma intensa e dura!

Não me há sentimento de ilusão
Neste transbordar de tortura...
Que já inventivo à solidão
Transpõe os meus olhos e perdura...

Eu já tanto sinto esse compasso,
Que já me é amor, que já é laço,
Que já me é tormento de conforto!

E deste blasfemo que vence a morte,
Que sorrio pela vida, desta sorte,
Já me sou de afeto intenso e absorto...

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 10 de julho de 2013



O meu ódio

A minha vida é d’uma saudade imensa...
Daquele que em mim pouco sente,
Num profundo notar, de toda a gente,
Daquele que vagueia e nada pensa...

Ando a desventura do que me intensa...
Ao meu falsado, sem que a frente
Eu consiga enxergar o que há contente
Nesta altiva agonia que me extensa...

Olhando por este mundo toda desgraça,
Do sentir que eu sinto, só por graça,
É o viver deste anseio dentro de mim...

E por este sentimento, por esta vida,
Do amor é o meu ódio, é a lida,
Que de saudade eu vivo sem ter um fim...

(Poeta Dolandmay)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A minha casa



A minha casa

Amo-te, escuro-silêncio, dos amados,
Quais na tua solidão se alimentam!
Aos seus amores não inventam
Olhos caídos de sentidos conjurados.

Amo-te, escuro-silêncio, dos pecados,
Quais nos teus ardores amam!
Nas tuas entranhas cantam
Aos espíritos que te vagam desolados...

Das almas que a tua casa é conforto,
Sou de igual mendigo-absorto
No desejo ao teu perfume, em flor...

Amo-te, escuro-silêncio, das sepulturas,
Dos quais te morrem às amarguras
Por renascer dentre as verdades o amor.

(Poeta Dolandmay)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Dom de amor



Dom de amor

Amar demais! Que alma fosse amar
O escuro da noite morta...
Amar demais! Que vivo a amargurar
No silêncio em que me conforta...

Amar as penumbras que me suporta,
As convulsas dores no perdurar
Dos anoiteceres imensos, o luar
Que nem casto bateu a minha porta.

Sinto! Amo! Mas o que sinto e amo
São os confortos do meu engano,
São os fantasmas quais eu converso...

Amar que do meu peito é espanto!
Silêncio, luar, amargura é o que canto
De amor, que me deu a dom o verso!...

(Poeta Dolandmay)