sábado, 24 de abril de 2010


TESTEMUNHO

Vida! Caminho deserto onde ando;
Agreste de sentimento amargo...
Vales e ondas, inútil, vai vagando,
Aos pés de mim o amor que trago!

Existência! Não sei eu até quando...
Advirá em águas o grande lago;
Baldadas lágrimas, rio dum afago;
Estrada infinita que vou rogando...

Balbucio demência, já a tanta dor...
Voz oculta em meio à sombra fria,
Já não me vale o temor dum grito.

Brado que não mais ouve o amor
Sob as rochas quietas à luz do dia,
Dentre à luz do sol, que já é mito!

(Poeta- Dolandmay)


ABRIGADO

"Enches de amor os seus dias;
Tu que os torna sólido;
Tu que lhe a deixas a sombra;
Abençoas os teus Sóis."

(Poeta- Dolandmay)

terça-feira, 20 de abril de 2010


ESPÍRITO DE ÁVILA

O meu amor por ti, ó flor, é como o da ave branca,
É como o da fragrância no seu corpo em fogo;
É como o inexprimível ato de romper o sentido leve
Da compaixão do seu espinho à beleza do seu caule.

Não sou a brisa e nem sou o ar, mas sou os olhos
Que te almeja, quem te espalha em visão ao mundo,
Por a lealdade do seu amor ao sol, a vida, e a morte.
Assim amo-te, ó flor, por as verdades da sua alma...

Assim amo-te dentro das pragas dos teus açoites,
Na areia fina onde cobras enfeitam a sua imagem,
Nas rochas onde és perfeição sobre as fendas negras,
E no acaso onde poucos encontrarão a sua calma...

Mesmo amo-te no saber do teu fadário sobre mim
Mesmo amo-te no saber do seu corpo sobre meu corpo,
Na ciência que enfeitarás o meu peito frio sob a terra,
E sobre as lágrimas e risos dos corações da verdade.

(Poeta- Dolandmay)

LUZ E NADA

"Deus nos deu os dias de Sol,
mas sempre insistimos a sombra."

(Poeta- Dolandmay)

PRESSÁGIO

Aos quatro cantos da terra
Guarda os anjos o mundo,
Ao céu profecia espera
O beijo do vento profundo...

O dia de sol que se encerra
Na lua da noite em fundo,
Da voz bendita que dera
O varão de cerne segundo:

Oriente em rochas benditas,
Levante as palavras ditas,
Nos céus em nuvens escuras.

Chamas em lágrimas leves,
As almas malditas são breves
Nas águas das fontes puras!

(Poeta- Dolandmay)

sexta-feira, 16 de abril de 2010


MEUS SEGREDOS

São dias de pranto, desalento, dias de dor!
Não há luar, não há luzir, não têm vida...
Não há paixão, são ambições perdidas,
São pobres como um outono em desamor!...

Meu coração é um despovoado sem fulgor
Perdido nas entranhas ensandecidas...
Em murmúrios, e de alma enlouquecida,
É um deserto desgraçado, e sem Amor!...

São dias impregnados, estiados, de morte.
Não há atilamento nos ermos da sorte,
Não há alaridos que espantem os medos...

Evadem-se as esperanças da noite calma...
Os ventos sussurram na minha alma...
São meus dias de treva, "os meus segredos"!

(Poeta Dolandmay)

terça-feira, 13 de abril de 2010


LAMENTO

É embriagues, é cansaço, como é mal;
Viver por um amor sem mais sentimento...
Andar pelas ruas a procura dum beijo fatal
Por esquecer o coração jogado ao vento!

Matar ou morrer! Uma escolha crucial!...
Enterrar os desejos no horto do sofrimento,
Dissolver a cobiça, um pecado capital
A reger na alma a canção dum lamento!

Tão cruel! Ó rica paixão, tão desumano!...
Desfolhar-te por um acriançado engano
Que o peito afronta nos teus dias de falta.

Caminhando, vai vida, vai caminhando...
Hás de encontrar os afetos já debulhando
O beijo que a ti espera... na noite alta!...

(Poeta- Dolandmay)

AOS ANJOS

Não fostes vós, que viestes a mim!...
Quem me levará aos céus?
Sim, Deus nos abençoará por nossos exercícios.
É quem nos dá auxilio para nossas guerras;
e Nele faremos proezas, pois a Ti pertence
as nossas angústias e o nosso sangue,
e o nosso espírito, e a nossa sabedoria.
Sim, disseste-me um dia:
Vai, as ovelhas, não as deixais com palavras odiosas,
e em recompensa do meu Amor as escutais,
e as fazeis orações em meu Nome!

(Poeta- Dolandmay)

SENTIMENTO INFINITO

Por tudo que me deste serei grato
Para toda à eternidade, e com amor
Serei eu do seu caminho o regato,
A dar-lhe a consistência e o frescor...

Por tudo que me foste ao esplendor
Mesmo quando a ti, eu era ingrato,
Deste-me tanto, e tudo, e com ardor
Para sempre serei em ti o fogo alto.

E tal como é a chama, o teu viver,
Uma graça a se apagar neste mundo
Serei eu em gratidão, por existir...

Mas por o teu sentimento profundo
Que em seu corpo há-de se extinguir,
Que nos seja imortal, em renascer...

(Poeta- Dolandmay)
CÂNTICO DE LUZ

Detrás de mim vêm os sonhos,
E na frente de mim à esperança
De os desejos inteiros da vida
De amor e paixão a chama erguida,
De os meus dias todos de paz!...

E detrás, porque vivo adiante...
E à frente porque o destino não vê
O imenso céu e brilhante
Dos meus dias a morrer, nunca mais!

Ninguém vive se não vive o viver
E ninguém ama se não ama o amar,
Porque sofre se não sofre o sofrer
E não vê quem andou sobre o mar...

E sobre os astros, de todos os astros
E sobre a trilha a trilhar os seus passos,
De o sangue de toda a esperança
A levar-nos contigo em teus braços!

(E detrás de mim, vêm os sonhos,
E na frente de mim à esperança
Por juntar-nos a infindável aliança
De os teus dias todos de paz!...)

(Poeta- Dolandmay)

DESENCANTO

Eu vivo nas trevas e no desencanto
Não acredito em nada nesta fútil era,
Pois em mim o que vêem, é uma fera!
Nasci pra viver em pleno pranto!...

Eu não tenho vontade e nem amo tanto
Para acreditar, no que me dera...
São afeições fúteis que dilacera,
Que não tem vida, que não tem encanto!

A luz do dia, sem fulgor, me prejudica
Nada me tem valor, e nada explica,
O que pode me tornar no tempo assim...

As horas não passam... nesta ardência
Tentam me reanimar com freqüência
Mas nada adianta, tudo errou em mim...

(Poeta- Dolandmay)

domingo, 11 de abril de 2010


Um grito de saudade

Por tudo que me foste em verdade,
Guardei-as, no meu peito, triste.
E quando me vêm à saudade
Ai, que o seu amor não existe!...

Por tudo que me foste em lealdade
Dentro do meu peito persiste
As lágrimas de sangue e maldade
Deste amor que em mim resiste.

Falo-lhe da paixão que me deste,
De quando em vaidade a fizeste
Ser uma saudade plena e infinita.

Mas de fato que eu a amava tanto
É que hoje eu espalho o meu pranto
Sob a voz que a minha alma grita!

(Poeta- Dolandmay)
PRECE DE BARDO

Olha-me, ó Luz, o que vês?
Não sou da claridade de ti!
Posso até ser o ofusco da noite,
Mas de o teu Amor me perdi.

Tu és o oiro que deita ao mar!
Eu sou à sombra da alvorada fria.
Deixo-te o meu coração
— O intento de minha alegria!

Vais agora para o mundo,
Espargir para as almas santas
Este amor que te é profundo.
E dentro de o teu peito nu
Rogas a bendita chama
Nas almas divinas que encontrar.
Sejas de todas que ama
As noites claras de um luar.

E então como os que sonham,
Ó Luz que me clareia,
Serei a esperança viva
Nas correntes de o teu fulgor,
Para que em ti encontrem o jardim
Aqueles que na forma de mim
Enxergarem o Amor que tive.
(Certo de que se alegrarão
Nas claridades que consigo vive!)

(Poeta- Dolandmay)


INFORMAL

Fontal de inquietude,
Planeta deserto.

Alma de Poeta amiúde,
Pensante por certo.

Não se pode ninguém
Entender este ser.

Porque será também
Neste mundo a morrer.

Morrer de quê?
Não necessito de vida!

Será que não vê,
A minh’alma erguida?

Acabei de dizer
Que tu és um louco!

Quem sabe em querer
A tu’alma entender...
Não entende tampouco!

(Poeta- Dolandmay)